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Esquecimento

Esse de quem eu era e era meu, Que foi um sonho e foi realidade, Que me vestiu a alma de saudade, Para sempre de mim desapareceu. Tudo em redor então escureceu, E foi longínqua toda a claridade! Ceguei... tateio sombras... que ansiedade! Apalpo cinzas porque tudo ardeu! Descem em mim poentes de Novembro, A sombra dos meus olhos, a escurecer... Veste de rosco e negro os crisântemos... E desse que era meu eu já me não lembro... Ah! a doce agonia de esquecer A lembrar doidamente o que esquecemos...! Florbela Espanca

Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento me servem neste dia em que te espero E já não sei se quero ou se não quero Tão longe de razões é meu tormento. Mas como usar amor de entendimento? Daquilo que te peço desespero Ainda que mo dês-pois o que eu quero Ninguém o dá se não por um momento Mas com és belo, Amor, de não durares, De ser tão breve e fundo o teu engano, E de eu te possuir sem tu te dares. Amor perfeito dado a um ser humano Também morre o florir de mil pomares E se quebram as ondas no oceano. Sofia de Melo Breyner Andresen