Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento
me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês-pois o que eu quero
Ninguém o dá se não por um momento

Mas com és belo, Amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.

Sofia de Melo Breyner Andresen

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